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Tempo dentro do tempo: Don Hertzfeld e Das Rad

Tenho que falar de coisa na minha cabeça, e que melhor a fazer apos assistir um Making off de Don Hertzfeldt titulado Watching Grass Grow.

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A coisa já estava ali dentro. Surgiu faz alguns anos na minha leitura dum livro maravilhoso de Ítalo Calvino titulado (em espanhol) “Si una noche de invierno un viajero”. A ideia volto em outro libro que li á pouco tempo, “A hora da estrela” de Clarice Lispector: A relação entre o autor e  seu processo criativo na situação onde o autor vira personagem, o que também pode ser dito assim: A relação ativa e visível entre o processo criativo como parte da obra de arte. A gente poderia falar da mesma coisa nas artes vivas, do performance, dos happenings, da arte efêmera, da Ana Mendieta, de Fluxux, da música concreta e do situacionismo, entre outras manifestações,  salvo da especificidade da animação frame by frame de permitir uma abstração do tempo sobre o tempo.

O video de Hertzfeldt é quase um diário, e tem o mesmo encanto dos romances de Lispector e Calvino; é coisa de quem gusta de refletir sobre como é que a magia funciona. Minha namorada não gosta dos making-of porque faz dano na visão dos filmes, a tela azul não é tão legal como assistir o Golum lutando com Frodo em “O Senor dos aneis”. Calvino fala disso no seu romance, o que acontece se você cruza o espaço de quem lê a quem escreve, aquele que esta pensando sobre a magia e aquele que esta pensando como fazer magia. O particular do Watching Grass Grow no seu devenir de documentário, é que volta a ser magia pela sua mecânica, por aquelo que  só pode-se mostrar  no time-lapse, no cut and paste de uma serie de momentos (frames) deslocados e ainda contínuos: a forma que permite abstrair animação da animação (o jogo do tempo que normalmente acontece na edição de qualquer audiovisual acrescenta-se pela vontade final dum processo de ir e voltar no tempo, de desenhar frames e ciclos, construir animação sobre a edição do processo.

Num sentido literal, fazer animação com técnicas como a pixiliation (ou tudo o que implique fazer o frame by frame), vai ter implícito um tempo que funciona dentro de outro tempo. Então para falar da Watching Grass Grow temos trés níveis temporais: o nível da sequencia dos desenhos, o nível da ação de desenhar no tempo, e finalmente o nível videográfico que é possível pela expansão do mundo que trai a fotografia (e as tecnologias da imagem análoga, magia do siglo XIX e XX).

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Lembrei de ter assistido algumas animações que funcionam deste jeito, fazendo brincadeira entre as formas de perceber o tempo, aproveitando-se da natureza, ou dum principio no ato de animar: cada objeto animado tem o seu próprio tempo. Um bom exemplo é Das Rad (A roda), filme muito famoso pois foi nominado para um Oscar a melhor animação:

Para finalizar eu tentei procurar outra animação, onde um personagem tenta reviver outro animando o seu cadáver, fazendo a brincadeira da animação dentro de outra animação.  Ainda não achei o link, lembro que estivo no portal do Coletivo Moebius.

Mais informações acerca sobre Das Rad: http://www.dasrad.com/

Website de Don Hertzfeldt: http://www.bitterfilms.com/

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Primeira revisão feita no 4 de janeiro de 2013

Segunda revisão feita no 16 de janeiro de 2013